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terça-feira, 4 de julho de 2006

O Ensino de Línguas Estrangeiras nas Escolas

(Trecho de palestra proferida pelo Prof. Pedro Cavalheiro,no evento "Esperanto nas Arcadas II", ocorrido no dia 10 de outubro de 2003 na Faculdade de Direito da USP no largo de São Francisco em São Paulo.)

Convido vocês para uma reflexão sobre algo estranho que acontece no ensino brasileiro sem que se conteste ou discuta.
Antes de qualquer coisa eu pergunto: qual é o papel da escola? Em última análise, é FORMAR. A palavra formar concentra todos os objetivos buscados pela escola.
Muito bem. Então, pergunto a vocês: o ensino da língua inglesa na escola objetiva formar o quê? Com o que pode contribuir para a formação de nossas crianças e jovens o ensino dessa língua na escola?
Vejamos: contribui para a formação do cidadão brasileiro? Aumenta a auto-estima, o orgulho de ser brasileiro? Ou talvez contribua para a formação de um cidadão do mundo? Será que o ensino dessa língua de origem antípoda à língua portuguesa, ou seja, anglo-saxônica, contribui para um melhor aprendizado da língua portuguesa que é neolatina? Será que contribui para um melhor conhecimento de geografia ou de história universais? Será que ajuda a desenvolver o raciocínio lógico matemático?
Para todas essas perguntas a resposta é NÃO.
E quanto à eficácia do ensino do inglês nas escolas de 1º e 2º graus? Você conhece alguém que fale fluentemente a língua inglesa, que tenha aprendido a referida língua só nos bancos escolares? Com certeza não. Todas as pessoas que falam inglês o aprenderam em institutos de idiomas e a maioria esmagadora precisou viajar para países de língua inglesa para finalmente dominarem tal idioma anglo-saxão. Será por incompetência dos professores? Não. Existe algo mais forte que a determinação de países economicamente fortes de varrerem o mundo com a imposição de sua língua e, conseqüentemente, sua cultura: o aparelho fonador.
É tecnicamente impossível. Simplesmente. Uma língua com 12 sons para a letra "a" é absolutamente vulnerável a sotaques e a distorção é inevitável. Resta apenas a possibilidade de uso como língua escrita. É só viajar pelo mundo e constatar como fala a língua inglesa um japonês, um grego etc.
Mas nem como língua escrita o sistema educacional logra êxito em ensinar. O tempo é exíguo e muito poucos alunos tem interesse em aprender essa língua apesar de toda a massificação pela música, cinema, grifes etc.
Interessante: os jovens nascem e crescem sob bombardeio da língua inglesa e mesmo assim não estão interessados em aprendê-la. Isso já diz muito por si só.
Mas voltando ao tema, então por que insistimos em impingir o inglês às nossas crianças e jovens?
Porque como disse no começo, a escola FORMA. E nesse caso, forma consumidores dóceis da cultura norte-americana e inglesa. Consumidores de música, cinema, turismo e tudo mais que nos chegue em inglês. É fácil constatar. Se eu colocar aqui para tocar um Rock em, digamos, japonês ou grego, muita gente vai rir ou achar estranho demais. Mas ouvimos Rock em inglês, que é língua de origem antípoda à nossa, como já dissemos, e achamos "natural", "bonito". Nossos ouvidos foram treinados para gostar, para não estranhar, para consumir. E assim a escola atingiu o único objetivo que tem podido alcançar com o ensino do inglês: formar consumidores de inglês. Não falantes. Não leitores. Não usuários. Não beneficiários. Apenas dóceis consumidores.
O espanhol é ainda recente como disciplina em nossas escolas mas a pergunta também cabe em se tratando dessa língua porque as crianças e jovens, apesar da proximidade da origem lingüística do espanhol com o Português, estão saindo da escola sem saber falar espanhol.
Logo surge uma pergunta óbvia: por que o Brasil, nação soberana, ensina inglês a crianças e jovens brasileiros? E da forma que ensina, ou seja, para formar dóceis consumidores? O que o Brasil ganha com isso? Apoio Norte Americano para transações internacionais como, por exemplo, a ALCA? Quem afinal ganha com isso? Digo, no Brasil? Mesmo essa frase de efeito elaborada para vender cursos de inglês "aprenda inglês e melhore seu salário", não é o que move os cérebros pensantes do MEC a manterem o inglês como disciplina obrigatória nas escolas. Disciplina, aliás, que não pode reprovar ou reter alunos, mas que rouba tempo precioso de aprendizado de matemática, português, história ou a tão urgente e indispensável disciplina "Ética".
Um país sério, democrático e que se preocupa com seus cidadãos, deveria ter em todas as escolas da rede pública seja municipal, estadual ou federal, um centro de línguas, onde a criança e o jovem pudessem aprender gratuitamente e sem obrigatoriedade. Ou seja, inglês, espanhol, italiano, francês, alemão etc. Esses centros ofereceriam cursos em período de aula oposto ao do aluno. No período de aula o aluno aprenderia disciplinas que FORMAM. No outro período encontraria na escola cursos de línguas, de graça, onde participariam crianças e jovens interessados em aprender, já que procuraram tais cursos. Formaríamos uma diversidade de habilidades e competências lingüísticas para uma sociedade etnicamente plural como é a sociedade brasileira para um mundo globalizado e não "anglicizado". Ofereceríamos oportunidades reais de aprendizado de línguas para crianças e jovens brasileiros que não podem freqüentar escolas particulares de línguas. Isso sim seria ensino de qualidade gerador de oportunidades.
E o Esperanto? Essa língua neutra reconhecida e recomendada pela Unesco que pediu em resolução oficial aos Estados Membros que passassem a "instigar a introdução de programas de estudo sobre o problema da língua e sobre o Esperanto em suas escolas e suas instituições de ensino superior" (resolução de 8.nov.1985 na 36ª sessão plenária em Sófia, Bulgária). E o Brasil é membro da Unesco.
Experiências realizadas em vários países demonstraram que o Esperanto, além de ponte lingüística de fácil domínio e neutra, ou seja, não impõe a cultura de determinado povo a quem o aprende, é propedêutico. Aprendendo o Esperanto, a criança na fase pré-escolar, desenvolve habilidade fonética para o aprendizado de línguas porque trabalha todos os pontos de articulação da caixa de ressonância do aparelho fonador. Ou seja, o Esperanto promove nessas crianças um desbloqueio fonético tornando-as capazes de pronunciar os sons de outras línguas.
Para as crianças do 1º e 2º graus, o Esperanto desenvolve o raciocínio lógico matemático, estimula o aprendizado de história e geografia assim como o interesse por conhecer as culturas dos povos do mundo. O Esperanto forma cidadãos, do país onde é ensinado, porque estimula o sentimento de fraternidade e cooperação e porque não cria sentimentos de inferioridade frente àqueles povos cujas línguas, crianças e jovens vêem-se obrigados a aprender. O Esperanto forma cidadãos do mundo porque os textos didáticos desenvolvidos para o seu ensino falam sempre de diversos povos e não de um só e o foco das situações é sempre humano e não doutrinatório.
O aprendizado do Esperanto facilita a compreensão da língua portuguesa devido a sua estrutura gramatical lógica e simples. E mais: o Esperanto é uma língua possível de se ensinar na escola de 1º e 2º grau. Estudos mostram que o Esperanto é pelo menos dez vezes mais fácil de aprender do que o inglês, conforme noticiou a revista News Week de 11 de agosto de 2003. O aluno pode sair realmente falando, comunicando-se através dele. E comunicando-se com o mundo porque o Esperanto está presente em quase todos os países do mundo e de maneira organizada: A Associação Mundial de Esperanto mantém relações oficiais e consultivas com a Unesco e uma rede de delegados em todo o mundo.
O mundo inteiro não fala Esperanto ainda, mas no mundo inteiro se fala Esperanto. Por isso o Itamaraty estuda oferecer cursos de Esperanto aos diplomatas brasileiros, como noticiou o Jornal O Globo de 3 de outubro deste ano.
A Internet é uma ponte de aproximação entre todos os povos do mundo, mas é preciso vencer a barreira lingüística para cruzar essa ponte com plenitude.
O Esperanto é a melhor resposta para uma inquietação da Unesco e de estudiosos de todo o mundo nos dias de hoje: preservar a diversidade cultural do planeta, ameaçada pelo bombardeio unilateral de culturas de países economicamente fortes. A diversidade cultural está tão ameaçada quanto a biodiversidade, conforme demonstra o ilustre professor e escritor italiano Umberto Eco (autor de O Nome da Rosa) quando diz: "Em minhas freqüentes viagens a muitos países, principalmente à França e à Alemanha, tenho ouvido constantemente queixas de que a língua inglesa, tendo-se hipertrofiado no nível de língua internacional, constitui-se num perigo de natureza imperialista para as línguas nacionais, as quais vão perdendo terreno diante dela. então digo-lhes: a solução é simples. comecem a ensinar o Esperanto a seus filhos e o perigo desaparecerá."
O Esperanto contribui para a formação de seres éticos porque promove a democracia lingüística nas relações internacionais e a crença na igualdade entre os povos. Em outras palavras, o aprendizado do Esperanto forma humanistas.
Mas se em um primeiro momento, a escola brasileira deixar de tratar seus filhos, os brasileiros, como vassalos consumistas de tudo que venha em língua inglesa e utilizar o escasso tempo de sala de aula FORMANDO aquilo que realmente interessa ao Brasil. Se puder oferecer ensino pluricista de línguas em centros de idiomas estabelecidos em cada escola pública, convidando e estimulando o seu aluno a espontaneamente aprender a língua que quiser, oferecendo aos mais carentes oportunidades (no plural) para competir em uma sociedade cada vez mais plural. Se puder contribuir dessa forma para uma globalização não pasteurizante, não homogeneizante e destruidora da diversidade cultural, mas sim enriquecedora e enriquecida pela fruição dessa diversidade, já terá dado um enorme passo em direção ao futuro. O Esperanto pode vir depois. O Esperanto é um caviar cultural. Precisamos ter capacidade e coragem para cuidar, pelo menos, do arroz com feijão. Precisamos instituir um "Fome zero de cultura".