(Texto extraído da 2a edição da obra "Veterano?", de Ismael Gomes Braga, publicada originalmente em esperanto pela Cooperativa Cultural dos Esperantistas , no ano de 1937. Tradução para o português: Fernando J G Marinho)
Será que nos tempos atuais o esperanto já exerce alguma influência nas línguas vivas?
Como esse tipo de influência é percebida?
Essas são perguntas que gostaria de fazer a esperantistas de diversos países. Embora, à primeira vista tais indagações possam parecer ingênuas quixotadas , arrisco responder: Sim.
Eis um exemplo: No Brasil, conservou-se obstinadamente , durante séculos, a ortografia etimológica, que empregava letras desnecessárias como o w e o y, muitas letras mudas, consoantes duplas - sendo que apenas uma delas era pronunciada- e assim por diante...
O eminente acadêmico brasileiro Medeiros e Albuquerque aprendeu o esperanto há 40 anos. Total simplicidade, características essencialmente fonéticas e regularidade na escrita da língua neutra internacional despertaram nele uma fortíssima repulsa pelas complicações desnecessárias da nossa ortografia oficial. Ele mesmo idealizou uma ortografia fonética especial e a utilizou. De forma incessante publicava artigos contra a ortografia nacional e a comparava com a do esperanto. Certa vez, apresentou à Academia Brasileira de Letras uma proposta em que:
Ensinaria , durante meia hora, à 10 pessoas que jamais houvessem escutado algo sobre o esperanto, qual a forma de escrita desse idioma e, posteriormente, as submeteria a um ditado de 50 palavras da citada língua. Na mesma ocasião propunha que a Academia escolhesse 10 dos seus mais eminentes escritores para que fossem submetidos , por ele mesmo, a um ditado de 50 palavras da língua nacional. Caso esses intelectuais, que há decadas estudavam a língua nacional, escrevessem tão corretamente quanto os outros 10, que estudaram apenas durante meia hora, jamais prosseguiria no combate à tradicional ortografia da língua portuguesa.
Nossa gloriosa Academia recusou o desafio.
O famoso escritor, no entanto, continuou na sua vigorosa luta e finalmente venceu.
Por decreto no 20.198, de 15 de junho de 1931, a escrita no Brasil passou a ser oficialmente simplificada e desde então os povos de língua portuguesa têm legalmente uma ortografia obrigatória muito mais semelhante à do esperanto do que a antiga. Ela é semi-fonética, regular, facilmente assimilável.
Certamente caçoarão de mim, se eu tiver coragem de dizer que devemos ao esperanto esse grande passo, mas ninguém tem o direito de negar os trinta anos de luta ostensiva do eminente esperantista a quem o esperanto deve a declaração oficial de "língua clara para o uso em telegrafia" desde 1906.
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Para saber um pouco mais sobre Medeiros e Albuquerque , não deixe de visitar o sítio da Cooperativa Cultural dos Esperantista e ler:
http://www.kke.org.br/pt/dossie/de_babel_ao_esperanto.php
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(http://ciberduvidas.sapo.pt/php/resposta.php?id=13779):
Tema: Reforma ortográfica brasileira anterior a 1943
Pergunta/Resposta
Reforma ortográfica antes de 43? No penúltimo capítulo do livro “Emília no País da Gramática”, Monteiro Lobato faz uma crítica a uma reforma ortográfica ocorrida no Brasil. O livro foi lançado em 1934 e até aqui eu só ouvi falar da reformas de 43 e de 71. A que reforma ele se refere? Por favor, tirem-me esta dúvida, pois estou fazendo um trabalho e preciso dar esta resposta na minha apresentação.Joelma Araújo Recife Brasil
Provavelmente Monteiro Lobato refere-se ao acordo ortográfico de 1931, entre Portugal e o Brasil. Este acordo foi aprovado no Brasil pelos decretos 20:108 e 23:028, respectivamente de 15 de J[j]unho de 1931 e de 2 de A[a]gosto de 1933. O acordo Portugal-Brasil de 1931, por exemplo, eliminava muitas consoantes não articuladas, só mantendo as do grupo cc quando soassem distintamente. Era um acordo com base na profunda Reforma Ortográfica de 1911, feita em Portugal, dita de Gonçalves Viana. O acordo de 1931 foi depois substituído pelo acordo Portugal-Brasil de 1945, ainda em vigor em Portugal (mas não completamente no Brasil nalguns pormenores, nomeadamente quanto a consoantes mudas mantidas em Portugal). Posteriormente houve vários aditamentos, esses feitos de comum acordo e que tornam a nossa escrita facilmente inteligível de parte a parte. No processo usado em Ciberdúvidas, de dupla grafia quando necessário (e com poucas mudanças, conforme se pode observar neste texto [só três...]), as oito pátrias podem gabar-se de efe(c)tivamente disporem de `uma comum língua escrita de expressão planetária´. O novo acordo ortográfico, de 1990, feito por distintos lingu[ü]istas e aprovado na altura por todos os países com a mesma língua oficial, uniformizava ainda mais a escrita, legitimando as diferenças em todo o universo da língua. Se entrasse em vigor, tornaria até desnecessária a dupla grafia. Ao seu dispor,D´ Silvas Filho
28/05/2004
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(http://ciberduvidas.sapo.pt/php/correio.php?ano=2005&mes=5)
Reforma ortográfica anterior a 1943
Parabéns pelo serviço prestado à Língua Portuguesa! Venho aqui incomodá-los por causa de uma pergunta/resposta de Março de 2005 sobre as reformas ortográficas anteriores às de 1931 e de 1943, levantada por Joelma Araújo, do Recife. Embora o Governo Brasileiro não tenha ratificado essa reforma ortográfica a Academia Brasileira de Letras aceitou em 1907 a proposta de reforma ortográfica apresentada por Medeiros e Albuquerque (parcialmente inspirada em Gonçalves Viana) e vulgo designada ortografia simplificada. Esta reforma seria revista em 1912 por João Ribeiro. Em 1926 a Academia Brasileira de Letras aprova e adopta o formulário ortográfico da Revista de Língua Portuguesa, para, depois, voltar à de 1907 em 1929 e finalmente em 30 de Abril de 1931 ser assinado o 1.º Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro ratificado pelo Governo Brasileiro através do Decreto n.º 20 108, de 15 de Julho do mesmo ano. Em 1943, os Governos Brasileiro e Português assinam uma Convenção Ortográfica, em Lisboa, a 23 de Dezembro. Promulgada por Getúlio Vargas via Decreto n.º 14 533 de 18 de Janeiro de 1944. Grato pela atenção.
Désiré Turpin
Professor
Lisboa
Portugal
20/05/2005
Nós é que lhe estamos muito gratos, prezado consulente, pelos preciosos esclarecimentos. Cf. Reforma ortográfica brasileira anterior a 1943
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
domingo, 22 de outubro de 2006
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