Francisco Mattos de Oliveira
A humanidade está atravessando um momento de grandes contradições na sua caminhada para a construção de um novo paradigma social.
Recursos tecnológicos oferecem instrumentos que permitem a transmissão de notícias no mesmo instante em que os fatos acontecem nas mais remotas regiões e, não obstante, a população mundial está muitíssimo mal informada.
Diagnósticos de doenças que ainda não manifestaram seus sintomas e algumas cirurgias à distância podem ser feitos por avançados meios eletrônicos. No entanto, é grande o número de pessoas que morrem sem qualquer assistência médica.
Grandes áreas de terras agricultáveis são preparadas por gigantescas máquinas, facilitando o trabalho dos homens e aumentando as fronteiras agrícolas, principalmente no terceiro mundo, produzindo mais alimentos. Entretanto, é lastimável a quantidade de pessoas que morrem de fome no mundo inteiro.
O PIB mundial cresce a cada ano. Porém, aumenta a legião dos que não conseguem tomar para si uma parcela decente das riquezas produzidas no planeta.
Modernos métodos pedagógicos são utilizados em todos os países. Mesmo assim, não se logra resolver o gravíssimo problema da educação no mundo.
Sem dúvida, a humanidade tem diante de si enormes problemas. Guerras, terrorismo de estado ou de grupos fundamentalistas, agressões à Natureza, principalmente causadas pela poluição, que não pode ser eliminada imediatamente sem o inevitável colapso da economia mundial. Em conseqüência, aumento do buraco na camada de ozônio, derretimento de geleiras, alterações do clima, chuvas em excesso ou secas devastadoras. Previsões de modificações na geografia planetária, causadas por abalos telúricos ou por aumento do nível dos oceanos. Corrupção em todos os níveis sociais no mundo inteiro. Doenças que aparecem sem que se descubram os recursos para combater as que surgiram pouco tempo antes. Envolvimento de países relativamente pobres com a produção ou a intermediação de narcóticos, consumidos principalmente nos países ricos, cujas estruturas sociais correm o risco de implosão.
Em poucas palavras, esse é o panorama de uma crise que pode ser considerada desoladora. Mas, como tal, uma oportunidade. É um momento em que não pode faltar a esperança nas soluções que certamente virão, porque há motivos de sobra para considerar a capacidade do ser humano, que na sua epopéia multimilenária venceu, com sabedoria, os obstáculos que se lhe colocaram no caminho.
Essa sabedoria é que fez surgir movimentos sociais com foros de cidadania mundial, empolgando pessoas que lutam pela construção de um mundo mais humano, composto de portadores de uma nova ética, alicerçados numa expansão de consciência que os possibilita reconhecerem-se como membros da grande família mundial.
Contrapondo-se ao comportamento negativo de grande parte da população do planeta que, em virtude de exacerbado egoísmo, é indiferente ou conivente com os problemas citados, estão se alinhando pessoas com uma nova postura diante do Universo, diante da Humanidade e diante de si mesmas.
Em todas as partes do nosso orbe essas pessoas se entregam à luta pela educação, pela paz, pela preservação do meio ambiente, pela melhor distribuição das riquezas, pela eliminação de todos os tipos de preconceitos, pela defesa dos direitos humanos, entre tantos outros movimentos de não menos importância que visam a promoção do homem integral, do homem como um complexo bio-psico-social-espiritual. É por isso que o tempo de uma grande mudança de paradigma social já chegou. Estamos atravessando os pórticos dessa grande transformação. Uma transformação jamais experimentada pela sociedade mundial, porque ela ocorre em toda parte, ao mesmo tempo. Mudança que encontra guarida nas mensagens dos grandes troncos religiosos do mundo. Que seriam aprovadas por homens que passaram pelo nosso planeta elaborando os artigos do estatuto da felicidade humana e lançando alguns dos ingredientes psíquicos que alavancam essas transformações geradoras do progresso inevitável. Entre eles, citamos, p
or exemplo, um Martin Luther King, um Mahatma Gandhi, um Lázaro Luiz Zamenhof.
Relativamente a esse último, podemos dizer que foi um dos maiores cientistas que já respiraram o ar do nosso planeta. Cientista da palavra. Sim, da palavra, que constitui a linha divisória entre os homens e os animais e que possibilitou o progresso desde a emissão dos primeiros sons articulados pelos seres humanos até os nossos dias, quando parte da humanidade atinge a "expressão universal do pensamento", caminhando vagarosa, mas incessantemente, no rumo da globalização dos seus mais nobres valores espirituais.
Sem a palavra não teríamos as cirurgias à distância, não haveria a comunicação instantânea por escrito, pela voz e pela imagem, como já podemos experimentar na Internet. Não teríamos as conquistas espaciais, as grandes obras da engenharia, os avanços da psicologia, da genética, da agropecuária, da economia, da pedagogia, do direito, dos transportes, enfim, de todos os campos da Ciência. Não haveria a possibilidade de fazer chegar a todas as regiões do planeta as mensagens que enriquecem o pensamento humano, que falam sobre o destino grandioso dos homens, sobre os imperativos da fraternidade universal. Não se poderia sonhar com a melhoria da qualidade de vida no planeta. É através da palavra que os homens estão construindo os caminhos que os levarão à democracia plena, inclusive no campo lingüístico mundial. Foi justamente nesse campo que Zamenhof marcou sua passagem como cientista, criando uma língua internacional conhecida no mundo inteiro: o Esperanto.
Esse cientista, filósofo, médico e humanista foi o iniciador dessa língua neutra com relação à política, à religião, à raça, à nacionalidade. Uma língua com bela sonoridade, extremamente simples e, sobretudo, lógica, condizente com os tempos do computador. Uma língua na qual se podem plasmar as mais sublimes expressões do pensamento humano. Uma língua que, não pertencendo a nenhum povo, por via de conseqüência, pertence a todos os povos e que veio para resolver definitivamente o problema da comunicação democrática entre pessoas falantes de línguas diferentes. Uma língua que, certamente, fechará com chave de ouro a chamada globalização. Não a globalização da miséria, da guerra, da ignorância. Porque não se completará a tão badalada globalização enquanto houver uma mãe assistindo a morte do filho, que poderia ser salvo com um pouco de água, algumas colheres de açúcar e uma pitada de sal. Não haverá completa globalização enquanto houver um ser humano sem acesso à escola ou sem u
ma assistência médica básica. Não haverá uma globalização total enquanto as pessoas forem classificadas pela cor da pele ou pela religião professada. Não haverá globalização sem uma democracia plena no mundo. E essa democracia plena só será possível quando a humanidade adotar uma língua democrática na relações entre os povos – uma língua sem donos, ou melhor, uma língua que seja de todos, como o Esperanto. Disse o então vice-presidente da República, Aureliano Chaves, em 1981, durante o 66o Congresso Mundial de Esperanto realizado em Brasília: "O esperanto é uma língua desarmada, que pede licença para entrar em nossa casa". Acrescentamos: se nós, os moradores dessa casa, não concordarmos com os antagonismos que ainda marcam a sociedade mundial, naturalmente abraçaremos o Esperanto.
A demora na prática da proposta do Esperanto não é exceção na arena do mundo em que vivemos. Outros nobres ideais, como a democracia, a liberdade, a fraternidade e as oportunidades iguais para todos, por exemplo, por enquanto não encontraram guarida nos corações humanos, de maneira geral.
No caso do Esperanto, afirmamos que um dos motivos é o fato de não haver, na retaguarda do movimento esperantista, nenhuma potência econômico-política para secundar sua adoção, o que sempre aconteceu com as línguas nacionais que se impuseram como língua internacional de plantão. Aliás, por motivos óbvios, o movimento esperantista dificilmente receberá apoio dessa origem.
E, coincidentemente, por motivos não menos óbvios, os outros movimentos também não contarão com o beneplácito das forças que detêm as rédeas do poder no mundo. Assim, o Esperanto, sendo uma língua que traz consigo uma "idéia interna", ou uma filosofia que possui uma língua própria, está à disposição dos cidadãos livres e progressistas do mundo para que eles se dêem as mãos e, juntos, usem esse instrumento democrático para a convergência dos movimentos aos quais são filiados, movimentos esses comprometidos com a conquista de melhor qualidade de vida para a humanidade, numa sinergia que abreviará a vitória dos homens na luta por um mundo melhor.
www.uea.org - www.esperanto.org.br - www.lernu.net
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
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