“Que coisa, na ordem universal, é esse bichinho que aprimora a inteligência até ao ponto de desintegrar o invisível átomo, e depois vai com a bomba atômica destruir cidades habitadas por dezenas de milhares de irmãos inocentes de qualquer crime?” (Monteiro Lobato, in Afinal Quem Somos?)
Stephen Kanitz, articulista da revista VEJA, em matéria recente levanta a curiosa tese de que o mundo, coletivamente, está cada vez mais inteligente, enquanto os seres humanos, individualmente, estão cada vez “mais burros”. Seus exemplos são desconcertantes. “Antigamente precisávamos entender de mecânica para dirigir um carro. Hoje os computadores são construídos à prova de idiota, graças a Deus!”. Chistoso, ainda coloca em cheque a teoria evolucionista de Darwin, referindo-se à “sobrevivência dos menos inteligentes”. Kanitz deixa patente nossa ignorância individual ao lembrar que se lêssemos 3 livros por mês, dos 20 aos 50 anos, ao final da vida teríamos lido mil livros. Uma insignificância ante os 40 mil livros publicados anualmente só no Brasil ou aos 40 milhões publicados no mundo, além das bilhões de home pages disponíveis. A mais intelectual das criaturas, portanto, saberia nada de nada!
O genial Stephen Hawking ao dissertar sobre a impossibilidade de se acompanhar essa avalanche de informações (O Universo Numa Casca de Noz), é igualmente arrasador: “Se dispuséssemos todos os novos livros, um ao lado do outro, à medida que fossem publicados, teríamos que correr a
O paradoxal é que enquanto nos países educacionalmente adiantados os profissionais aprendem a lidar com esse universo de informações concentrando-se nas suas especialidades (“generalistas sem especialidade não arrumam o primeiro emprego”, diz Kanitz), no Brasil sequer vencemos o estágio inicial para a formação de nossos jovens. O brasileiro não lê! A propósito, em matéria também recente, F. Utzeri, responsável pela série Educação! Educação! no Jornal do Brasil, traz à tona dados preocupantes. Recordando o mote de Monteiro Lobato segundo o qual “Um país se faz com homens e livros!”, Utzeri cita que o brasileiro lê, apenas, 0,8 livro por ano, média muito inferior à dos norte-americanos (11) e à dos franceses (7). Incluindo os livros didáticos, chegaríamos a 2,4 livros per capita/ano: “Não é exagero afirmar – escreve – que a escola e a família não acostumam as crianças com livros”. Lamentável!
Antes de finalizar, imprescindível reconhecer também que o simples acúmulo de conhecimento não tornará o homem e o mundo melhores. Sob esta perspectiva, aliás, o problema torna-se ainda mais complexo, evoluindo para a grave questão da diferença entre instrução (relacionada com o cultivo do intelecto) e educação (relacionada com o caráter). Para provocar os reticenciosos, lembramos que as crises que assoberbam o mundo são crises de caráter, geradas por inteligências cultas mas desprovidas da educação (no sentido lato da palavra).
Por oportuno, no livro Se Você Finge que Ensina eu Finjo que Aprendo ,H. Werneck inclui um texto (tido como de autoria desconhecida) cuja leitura sugere, por estranho que pareça, ser possível emburrecer com sabedoria. "Sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver: câmaras de gás construídas por engenheiros FORMADOS; crianças envenenadas por médicos DIPLOMADOS; recém-nascidos mortos por enfermeiras TREINADAS; mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados em UNIVERSIDADES”. Werneck, por fim, arremata judiciosamente: “Professores, ajudem seus alunos a se tornarem humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados. Aprender a ler, a escrever, aprender aritmética só é importante quando serve para fazer nossos jovens mais humanos."
Por isso tudo, não ignorando as carências e o estágio quase falencial de nossas escolas, a equação mais premente e desafiadora de nosso sistema educacional talvez possa ser assim enunciada: instrução mais educação = ensino eficaz!
2 comentários:
Belo artigo.
Brigadão, Pedro!
Estou em falta com você.Como diz o nosso coleguinha, o genial Stephen Hawking , “Se dispuséssemos todos os novos livros, um ao lado do outro, à medida que fossem publicados, teríamos que correr a 145 km/h para acompanhar o fim da fila...”. Estou sem fôlego para essa corrida alucinadora! Me aguarde.
Abração do
Marinho
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