O artigo abaixo foi extraído do sítio da Universidade de Brasília (www.unb.br/acs/bcopauta/extensao4.htm)
Idioma que une
Livre de ideologias, esperanto pode servir de ponte entre os povos. UnB tem especialista no assunto
Um brasileiro, um croata e um marroquino. Uma norte-americana, uma chinesa e uma angolana. Nas duas rodas de conversa, o entendimento é perfeito, independente do tema. Algo em comum? O esperanto. Criado para servir de elo conquista novos adeptos a cada dia, em mais de 120 países. Entre os jovens do Brasil e do mundo, a procura por ele cresce como uma resistência a línguas nacionais impostas aos outros países, como o inglês.
A busca por um idioma que integre as nações é, hoje, um dos principais debates nos organismos internacionais, segundo o estudioso de Lingüística e professor da Escola de Extensão da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Pereira Nascentes. Atualmente, a Organização das Nações Unidas (ONU) possui sete línguas de trabalho – inglês, árabe, chinês, francês, russo, espanhol e português. Na União Européia, os representantes de cada país têm o direito de se expressar e receber os textos propostos pelas outras nações no seu idioma. Mas essa prática, no entanto, não é simples. “Além de gerar problemas de interpretação, a tradução de todos os documentos para todas as línguas tem um custo muito alto para essas organizações”, explica Nascentes.
Há quem defenda que o inglês, disseminado em todo o mundo, poderia assumir perfeitamente o papel de língua transnacional. Mas a discussão é muito mais complexa, segundo o especialista da UnB, que é também vice-presidente da Liga Brasileira de Esperanto. “Língua é poder. Quem impõe o seu idioma, impõe a sua visão de mundo, a sua cultura”, pontua o professor. “O inglês ou francês, não podem ser elevados ao status transnacional. O Esperanto, por não ser de nenhum país e estar livre de ideologias, pode servir de ponte para todos os povos”, argumenta.
INFLUÊNCIA – Nascentes destaca ainda que o inglês só tomou essa proporção pela grande influência dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. “Não sabemos até quando vai durar esse domínio. Se, por exemplo, amanhã a China se tornar a grande potência mundial, todos terão que aprender chinês”, sugere.
Não há, entretanto, um controle de quantas pessoas falam hoje o Esperanto no Brasil e no mundo. As estimativas são desencontradas e giram entre 2 milhões e 10 milhões de falantes no planeta. “Fica complicado de estabelecer quantos são os esperantistas porque há vários níveis de conhecimento sobre ele”, explica o professor, que propõe uma nova forma de contabilizar o interesse pelo idioma criado: “Acompanho sempre o número de inserções sobre o Esperanto na internet, por meio dos sites de busca. No Google, por exemplo, são mais de 160 milhões de páginas sobre o assunto.”
SIMPLICIDADE – Quando criou o esperanto nos anos 1880 em Varsóvia, na Polônia, o oftalmologista e filólogo Luís Lázaro Zamenhof elaborou uma gramática simples. Com vocabulário baseado em línguas latinas, anglo-saxônicas e eslavas, o idioma tem 16 regras básicas e nenhuma exceção. “A língua é fonética, cada letra representa apenas um som. Isso facilita o aprendizado, porque respeita a intuição do falante”, detalha Nascentes.
Para o especialista, seis meses de estudo da língua são suficientes para aprender o nível básico do esperanto. “Com este tempo, já é possível viajar e conversar com outros esperantistas pelo mundo”, afirma.
CULTURA – Por ser muito novo – ainda nem completou 120 anos – e ter surgido independente da história de um povo, o esperanto é considerado, por muitos, um idioma que não possui valor cultural. Mas, segundo Nascentes, a produção cultural do esperanto ainda está sendo formada. “É um novo ideal de cultura, de caráter transnacional”, destaca. Poetas e romancistas já escrevem diretamente em esperanto. As traduções de autores reconhecidos como William Shakespeare e Franz Kafka também são cada vez mais comuns.
Quanto à expectativa de que o esperanto alcance, um dia, todas as nações e seja coroado como principal meio de ligação entre os povos, o especialista se mostra confiante. “Em todo o mundo, o número de falantes está crescendo, mas é a própria humanidade que vai fazer suas escolhas”, pondera. “O importante é despertar o real sentido do esperanto, de respeito às diferentes culturas e de entendimento entre as nações.”
CONTATOProfessor Paulo Pereira Nascentes pelo e-mail pnascentes@gmail.com
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