(Cópia de mensagem enviada por Adonis Saliba ao Jornalista Daniel Piza, em 3 de janeiro de 2007)
Prezado Daniel Piza,
Ontem, pude ver no canal Globo News, um programa sobre o Internetês, em que você participava como debatedor.
Parabéns, foram brilhantes suas abordagens. Realmente, o internetês é uma espécie de código de comunicação que está sendo gerado na modernidade da internet. É fugaz, visa a uma comunicação imediatista, beira o ridículo, algumas vezes, mas é um fenômeno que estamos presenciando nos dias de hoje de comunicação à velocidade da luz. A história o definirá melhor.
Você utilizou como apoio língüístico a citação do "Esperanto", quase como um adjetivo de uma "chave mestre universal". Isso é, no mínimo errado, anacrônico, em relação ao Esperanto real e atual. Concordo com você que a utilização errônea do termo Esperanto é advinda de um tempo na história em que o homem buscava a universalidade para tudo, coisas do início do século XX. A coisa se alterou consideravelmente nos últimos 80 anos, a tal nível que em 1996 foi gerado pelos esperantistas um manifesto, denominado "Manifesto de Praga" que mostra a base do que realmente nós, os esperantistas, acreditamos. Procure no google sobre o Esperanto, que você vai se assustar pela distância do que está usando para o que se pretende e se faz hoje em dia com o Esperanto. Veja que eu escrevo Esperanto com letra maiúscula, pois ele não é nome de língua, mas de um movimento. Uma das traduções existentes para o português, do Manifesto de Praga, está no seguinte endereço: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_de_Praga
Se procurar um pouco mais sobre o Esperanto vai notar que além do idioma, estamos batalhando por um mundo melhor, mais democrático, mais cultural, diversificado, sem imposições lingüísticas. Longe de uma aceitação de uma imposição utópica e selvagem de um multilinguismo absurdo, da qual somente se converge para um monoglotismo de interesse anglófono. Em síntese, converge-se para prestígio de alguns em detrimento de todos os demais povos e nações. Por isso, não podemos continuar difundindo um erro que o Esperanto é uma ditadura de universalização linguística, Isso só atrapalha nosso trabalho de divulgação do idioma. O Esperanto que você delineou como adjetivo, realmente inexiste e apenas é propalado por aqueles que não querem nem conhecê-lo, devido ao nível de anglofilia que já chegaram. O Esperanto não é chave mestra de nada, não pode ser um internetês. O Esperanto é um ideal de comunicação onde democraticamente pertence a todos e a ninguém simultaneamente. Com o inglês, a situação é contrária, o qual somos obrigados a usar (isso que é universalização linguística e deletéria para as diversas culturas). O inglês, de início e para sempre, nunca pertencerá a um brasileiro e, por isso, sempre seremos menos considerados pelo inglês que falamos do que uma criança de 5 anos cuja língua pertence a ela. Isso não é bom para nós. O Esperanto existe até mesmo para proteger o inglês de uma deterioração cultural, queremos que o inglês seja usado e falado em alto nível, pelos seus nativos, mas não como um instrumento de poder e de subjulgação.
Bom, não vou te encher a paciência, mas sugeriria que lesse o livro "O desafio das línguas" do linguista internacional Claude Piron. Se quiser ver como o Esperanto funciona e aprendê-lo procure pelo Projeto Nesto, reconhecido até pela Unesco e que gerenciamos aqui no Brasil para mais de 63 paises no mundo, com quase 5500 alunos e com centenas de professores internacionais, coordenados somente em Esperanto.
Bom, mas se nada disso o convencer, peço-lhe encarecidamente que evite difundir um erro histórico citando o Esperanto como "chave universal" ou "língua universal". O Esperanto não é isso, apenas pretende ser uma língua auxiliar de todos os povos e culturas, sem qualquer vínculo com o poder e sem privilegiar classes econômicas e sociais. O Esperanto é antes de tudo um instrumento de democracia.
Abraços e parabéns pelo seu maravilhoso site e trabalho.
Adonis Saliba
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